Panorama da redação

Quem são eles
Uma organização jornalística nacional e trilíngue focada em notícias locais e na política
Localização
Selangor, Malásia
Fundação
1999
Lançamento do programa de membros
2019
Visitantes únicos mensais
5 milhões
Número de membros
20.792*
Percentual de receita representado pelo programa de membros
46%

O Malaysiakini lançou um programa de assinaturas em 2002, sendo uma das primeiras redações da Ásia a adotar um modelo em que a audiência contribui para a receita. Em 2019, o Malaysiakini introduziu um programa de membros como suplemento para suas assinaturas porque o crescimento havia estagnado e os leitores almejavam uma relação mais profunda com a organização. O programa de membros é um adendo opcional — os assinantes podem se juntar caso desejem (sem custos adicionais) ou continuarem apenas com suas assinaturas.

O Malaysiakini escolheu este modelo misto, ao invés de exclusivamente um programa de adesão, devido ao clima político na Malásia. Ataques do governo à imprensa são frequentes, e o veículo sabia que alguns leitores teriam medo de serem chamados de “membros” do site. 

“Há uma sabedoria envolvida na decisão de não formalizar [o nosso programa de adesão]. Nós podemos usar o termo ‘membros’ informalmente por enquanto. Mas tudo que é por escrito diz assinantes, até os nossos recibos, porque usar a palavra ‘membros’ pode pô-los na mira do governo”, disse a chefe de adesões, Lynn D’Cruz. 

*Esse é o número de assinantes. O Malaysiakini não pôde fornecer o número de assinantes que optaram por aderir ao programa de membros. 

Por que isso é importante

O governo da Malásia vigia de perto jornalistas, com ameaças de revogação das concessões para que possam publicar e processos contra indivíduos e organizações — incluindo, em diversas ocasiões, o Malaysiakini. A mais recente delas veio em junho de 2020, devido a comentários feitos por usuários no site. Isso deixou os leitores temerosos de serem publicamente associados à organização.

Devido ao medo entre os leitores de que possam se tornar alvos por serem “membros” do Malaysiakini, a organização sentiu que era importante permitir que leitores pudessem continuar a se identificar publicamente como assinantes. Os leitores recebem convites para se tornarem membros apenas depois de serem assinantes.

O modelo misto permite ao Malaysiakini oferecer opções tanto para quem quiser ler e apoiar o site sem ser associado a ele quanto para aqueles que desejam se engajar mais (mas ainda desejam manter um perfil mais reservado enquanto o fazem).

O MPP é com frequência perguntado sobre como um programa de membros pode ter lugar em ambientes onde há repressão à mídia. A abordagem do Malaysiakini mostra uma maneira que as organizações de notícia podem apoiar sorrateiramente o engajamento típico de modelos de adesão, mas sem pôr seus apoiadores em risco.

Além disso, modelos mistos de receita estão em alta, despertando uma série de perguntas sobre como, exatamente, eles podem coexistir na mesma organização. Este é um exemplo.

O que eles fizeram

O Malaysiakini tem um serviço de assinatura desde 2002, mas lançou seu programa de membros em novembro de 2019.

Eles começaram o processo de elaboração do programa de membros com uma pesquisa de opinião enviada aos assinantes, perguntando-lhes o motivo de manterem suas assinaturas (a maior parte respondeu que é devido à sua lealdade ao Malaysiakini) e o que esperavam ver no futuro. Eles receberam alguns milhares de respostas. A pesquisa mostrou que os dois pedidos mais populares foram uma newsletter e acesso antecipado às reportagens (algo que ainda está sendo desenvolvido).

Em resposta, o Malaysiakini introduziu dois produtos ao programa de membros:

A newsletter Nifty Notes: Todos os assinantes são automaticamente adicionados à lista de e-mail para esta newsletter semanal, mas podem optar por parar de recebê-la a qualquer momento. A newsletter está disponível também para não assinantes, como um produto de construção de fidelidade para encorajá-los a se tornar usuários pagantes mais à frente. 
A comunidade Kini: Uma comunidade on-line disponível para seguidores que optaram por participar do programa de membros. Integrantes da comunidade Kini podem favoritar reportagens, seguir e dar curtidas nos comentários de outros membros, além de palpitar sobre quais pautas desejam que o Malaysiakini cubra em seguida. A ferramenta foi desenvolvida em resposta aos leitores que expressaram interesse em ter uma relação mais profunda com o site.

An image showing a mobile interface of Kini Community's "Bookmark Stories" feature which includes a icon people can click on to save a story to their profiles.
Um dos recursos da Comunidade Kini é a capacidade dos membros de favoritar histórias. Devido ao caso em andamento, este exemplo inclui um texto fictício.

Por mais que a indústria do jornalismo esteja se afastando dos comentários anônimos, o Malaysiakini optou por mantê-los assim para proteger seus usuários de represálias do governo. 

O site tem tido que lidar com os comentários de maneira cautelosa diante da pressão governamental, particularmente depois que foi processado por cinco postagens anônimas deixadas por usuários no site

A política de comentários do Malaysiakini diz o seguinte:

Todos os comentários são linkados ao seu perfil de assinante no Malaysiakini, e nós reservamos o direito de revelá-lo para as autoridades diante de solicitações por motivos válidos. No passado, o Malaysiakini se recusou a divulgar as identidades dos nossos colaboradores, resultando em buscas policiais e computadores confiscados. Vamos manter esta política. No entanto, pode haver exceções.

Ao mesmo tempo, o Malaysiakini incentiva os integrantes da comunidade Kini a usarem seus nomes reais, dando ponto para quem opta por fazê-lo. Os pontos são como moedas na comunidade, que podem ser comprados ou acumulados deixando comentários e usando nomes reais. Os pontos permitem curtir as postagens de outras pessoas.

Os resultados

Por mais que o Malaysiakini tenha se recusado a fornecer números, eles disseram que quase um terço dos seus assinantes foi conquistado após novembro de 2019, quando lançaram a opção adicional do programa de membros. Falaram ainda que mais da metade do total de assinantes optou pelo programa de membros. 

No entanto, desde que o governo malaio abriu os processos contra a publicação, em junho de 2020, os comentários no site e o engajamento na comunidade Kini reduziram — parcialmente por uma queda de entusiasmo e parcialmente porque o Malaysiakini restringiu o número de reportagens nas quais permite comentários. Eles não permitem mais comentários em matérias sobre o julgamento em curso, disse o diretor executivo Premesh Chandran. 

Os assinantes expressaram preocupação com a possibilidade do Malaysiakini entregar suas informações pessoais para a polícia malaia, apesar do fato do serviço ter deixado claro em sua política de comentários que não fará isso a menos que haja “uma clara violação da lei” — mesmo que isso signifique arriscar uma nova batida policial na sua redação. O Malaysiakini precisou ser muito claro com os seus usuários a respeito de como podem ou não protegê-los.

“Na verdade, nós alertamos [nossos assinantes] que eles são responsáveis por seus próprios comentários, e que nós iremos entregar suas informações pessoais para a polícia caso seja solicitado. Isso também garante que os nossos leitores sejam mais responsáveis por seus comentários no Malaysiakini”, escreveu Chandran para o MPP.

O que eles aprenderam

Ter um modelo misto permitiu aos malaios apoiar o Malaysiakini da forma que se sentirem mais seguros. Foi crucial oferecer aos leitores a opção de permanecer em uma relação transacional de assinatura ou de optar também pelo programa de adesão. Isso permitiu ao Malaysiakini continuar a receber contribuições financeiras de ambos leitores.

“Eles acreditam que o Malaysiakini traz informações verídicas e é isso que eles apoiam. Querem acesso à verdade”, disse D’Cruz. 

A construção de uma comunidade, no entanto, é incrivelmente difícil quando participar dela desperta uma sensação de risco. O Malaysiakini viu um declínio acentuado no engajamento desde que foi processado. Eles estão experimentando incentivar a comunidade Kini a usar seus nomes verdadeiros, mas, diante da sombra do julgamento, não está claro se isso vai funcionar. 

Conclusões principais e alertas

Se você está atuando em um ambiente com liberdade  de expressão limitada, garanta que os seus apoiadores se sintam seguros. Em um país como a Malásia, onde a perseguição do governo à mídia é forte, o número de pessoas que quer divulgar seu apoio a uma organização da imprensa mirada pelo governo é provavelmente bem menor que aqueles que desejam informações de qualidade, mas preferem manter um perfil reservado. Enquanto você escolhe e desenvolve seu modelo de receita oriunda da audiência, é importante manter em mente não apenas suas necessidades, mas o que fará seus membros em potencial se sentirem seguros ao oferecerem apoio.

Ter um modelo misto requer comunicação. Ter dois modelos de receita e de engajamento coabitando na mesma organização requer uma comunicação excepcionalmente clara com a audiência. Qualquer confusão pode gerar problemas para adquirir tanto assinantes quanto membros. Você deve se esforçar para facilitar que eles compreendam a diferença e para ajudá-los a entender qual dos dois sistemas se adapta melhor às suas necessidades. 

Outros recursos