Panorama da redação
Uma companhia de mídia digital e de análise do consumo que inspira mulheres negras a perceberem como podem mudar o mundo por meio de cada clique que fazem e de cada conversa que estabelecem
2014
Londres, Reino Unido
2017
Cerca de mil
60%
Faz parte da missão da Black Ballad ser um lugar seguro na internet para mulheres negras, que têm poucos espaços onde podem se reunir virtualmente sem serem alvo de abusos verbais. Quando foi lançado, a Black Ballad era um blog sem paywall. Conforme seu alcance crescia, contudo, aumentava também o abuso que suas redatoras e usuárias sofriam de trolls virtuais — um efeito colateral que o Ballad não estava disposto a aceitar.
Primeiro, acabaram com a seção de comentários. Depois, quando lançaram seu programa de membros em 2018, criaram uma área de trabalho no Slack exclusiva para membros — o espaço seguro que sabiam que suas leitoras precisavam para se sentirem apoiadas e protegidas. O grupo no Slack, que a Black Ballad modera levemente, se tornou uma fonte constante de feedbacks sobre com o que suas membros se importam e em que a Black Ballad deveria estar prestando atenção.
Por que isso é importante
Muitos veículos midiáticos afirmam que desejam comunidades virtuais vibrantes, mas acabam transformando esses espaços em apenas outros meios de promover seu jornalismo para a audiência. Para a Black Ballad, a comunidade é o objetivo final — e isso fica evidente em tudo, desde como pensam no propósito dos canais do Slack até nas regras para as mulheres adeptas do programa.
A Black Ballad também demonstra que oferecer segurança emocional e inclusão pode ser um diferenciador competitivo — algo que o Membership Puzzle Project também percebeu ao estudar movimentos encabeçados por membros além das notícias. As integrantes da equipe tornaram rotineiro o uso de informações que tiram de conversas com quem aderiu ao programa para tomar decisões editoriais centradas na audiência. O ciclo de feedbacks positivos encoraja a equipe a investir ainda mais na adesão da comunidade.
O que elas fizeram
A Black Ballad começou como um blog sem paywall. Isso o ajudou a aumentar seu alcance, mas Tobi Oredein e Bola Awoniyi, que fundaram o site, descobriram que quando suas matérias viralizavam, a pessoa que escreveu o texto e as pessoas que se engajavam na seção de comentários se tornavam alvos de abusos. Oredein e Awoniyi sabiam que algo precisava mudar.
“Mesmo antes do programa de membros, estávamos decididos que seríamos um espaço seguro para mulheres negras. Caso não pudéssemos fornecer isso em nosso site, então qual seria o sentido?”, indagou Awoniyi.
A equipe removeu por completo a sessão de comentários do site enquanto decidiam seus próximos passos. O desafio coincidiu com a elaboração de seu programa de membros, lançado em junho de 2017.
A equipe considerou brevemente reinstalar a seção de comentários e torná-la exclusiva para membros, mas decidiu que isso seria muito limitante. A intenção era permitir discussões sobre tudo que era importante para mulheres negras, não apenas os assuntos sobre os quais a Black Ballad escrevia.
Por fim, decidiram criar um espaço exclusivo no Slack para as membros premium, que pagam 7 libras por mês ou 69 libras por ano e compõem cerca da metade das suas mais de mil membros pagantes. Após a adesão, as membros premium recebem um e-mail de integração (“Bem-vindos ao seu espaço seguro para mulheres negras”), que funciona como uma guia para a criação de uma conta e esclarece as regras da comunidade.
A introdução ao grupo do Slack diz o seguinte:
Elas também começaram a compartilhar decisões internas importantes no grupo, tratando-o de fato como um conselho comunitário. Em junho de 2020, a BB decidiu não enviar uma repórter para cobrir os protestos do Black Lives Matter em Londres porque as taxas de contágio da Covid-19 ainda estavam altas, particularmente entre moradores negros, e não queriam pôr em risco uma jornalista negra.
Compartilharam a decisão no grupo do Slack antes de divulgá-la publicamente. O feedback positivo que receberam as ajudou a se sentirem mais confortáveis para anunciar a decisão de forma mais ampla.
Os resultados
Mais de 350 membros têm atualmente contas ativas no Slack. Há entre 15 e 20 canais a todo momento, sobre tópicos que vão da maternidade a filmes e televisão. A Black Ballad aprendeu ao longo do tempo a limitar o número de canais e manter a maior parte das conversas no canal #geral, para que não fiquem muito fragmentadas.
Elas também descobriram a regra de ouro para quando uma conversa no fórum principal deve ser enviada para um canal sobre o tópico relevante: “Se isso fosse um grupo do WhatsApp, em que momento as mensagens se tornam irritantes?” (É geralmente um fio de 15 a 20 mensagens, mas se há muitas pessoas participando ativamente, elas deixam o debate ir bem além.)
Enquanto isso, estabeleceram critérios para criar um novo canal:
- O assunto é um dos interesses principais mencionados na pesquisa de integração enviada a todos os membros (foi assim que maternidade se tornou um canal),
- O canal foi solicitado por muitos membros (há um canal específico chamado #sugestõesBB)
- Há um forte, mas limitado, interesse no assunto no canal #geral.
Elas fizeram isso para programas de TV, como Insecure, para evitar spoilers e porque nem todos os membros os assistem. Também fizeram um canal de ativismo no auge dos protestos do Black Lives Matter em meados de 2020, porque sabiam que algumas participantes precisavam que o grupo do Slack fosse um lugar em que tivessem uma pausa para a saúde mental.
Para Awoniyi, os melhores momentos são aqueles em que veem membros ajudando umas às outras sem qualquer intervenção da equipe da BB.
Em uma ocasião, uma mulher compartilhou uma história sobre um problema que estava tendo em seu local de trabalho. Outra integrante ativa no grupo naquele momento trabalhava com recursos humanos e se prontificou a ajudar a autora da postagem e outras sobre como proteger seus direitos no ambiente de trabalho.
Por mais que a Black Ballad raramente assuma qualquer papel formal de moderação, ele presta bastante atenção nas conversas e incorpora as informações que obtêm nelas nas decisões editoriais. O ciclo informal e contínuo de feedbacks empodera a comunidade a assumir um papel central em determinar os tópicos da cobertura da BB, transformando o site em uma iniciativa guiada pelos usuários.
“A plataforma do Slack serve para mais do que falar simplesmente das reportagens. Em sua essência, é um canal de informação para mulheres negras que querem falar sobre os assuntos mais importantes para elas”, disse Awoniyi.
O que elas aprenderam
“Quando diz respeito à comunidade, a coisa prioritária — e melhor — a ser feita é ouvir.” Você pode criar quantos canais de Slack você quiser neste mundo, mas se eles não forem baseados em coisas que você ouviu serem importantes, não serão bem-sucedidos.
Mas os critérios editoriais são fundamentais. “Sim, receber feedback direto dessa escuta é útil”, disse Awoniyi, “mas nem sempre é um indicativo do que uma comunidade deseja. É um sinal do que elas estão falando agora”.
A prioridade deve estar na interseção dessas necessidades. Awoniyi disse que a chave é, por um lado, criar um espaço que seja propício para o que a sua organização precisa, e, por outro, descobrir o que ela tem em comum com como os membros desejam usar a plataforma para discutir e explorar. “Quanto mais você é capaz de alinhar essas duas coisas, melhor deverá ser seu desempenho”, disse Awoniyi.
Conclusões principais e alertas
Membros da comunidade sabem dizer quando a comunidade não é o seu foco. Seus membros sabem dizer quando uma comunidade on-line existe exclusivamente para a divulgação do jornalismo. A vivacidade da comunidade da Black Ballad tem muito a ver com o quão pouco a equipe tenta direcionar as discussões. Isso também significa que as informações que extraem lá são mais orgânicas.
Subjacente a tudo isso está um claro senso de propósito promovido pela Black Ballad e, por extensão, pelo seu grupo no Slack: a criação de um espaço seguro para as mulheres negras britânicas. Esta proposta não diz respeito a exposição ou alcance. A Black Ballad não trata o grupo como uma maneira de fazer com que as pessoas leiam mais do seu jornalismo (mesmo que ele, com frequência, acabe sendo discutido no grupo, e a equipe possa compartilhar alguma reportagem se o tópico surgir organicamente). Optar por um grupo exclusivo no Slack a comentários ou grupos no Facebook limita o alcance do seu trabalho, mas também aumenta a confiança e o relacionamento que você têm com seus membros — e, para a Black Ballad, essa é uma troca que vale a pena.
Outros recursos
- Black Ballad (recurso): Slack community guidelines
- Projeto Coral, (recurso): Community guides for journalism
Para fins de transparência: O Membership Puzzle Project apoiou um projeto paralelo na Black Ballad por meio de seu Fundo Membership in News