Panorama da redação

Quem são eles
Um meio de comunicação progressista tradicional argentino focado em política e direitos humanos
Localização
Buenos Aires, Argentina
Fundação
1987
Lançamento do programa de membros
2018
Visitas únicas mensais
15 milhões
Percentual de receita representado pelo programa de membros
10%

Panorama

Quando o Página / 12 foi lançado em 1987, quatro anos após a Argentina sair de uma ditadura militar, ele se apresentava como o jornal da democracia e dos direitos humanos. Na esperança de oferecer uma perspectiva diferente aos leitores, incluía uma mistura de notícias, jornalismo investigativo, opinião e análise aprofundadas — tudo com um toque de ironia instigante, que se tornou sua assinatura.

Mas, em 2016, o Página / 12 simultaneamente enfrentou dois desafios existenciais: o de obter lucro com jornalismo digital e uma mudança de governo que o pôs em uma posição desfavorável para obter publicidade governamental, uma fonte importante de receita para a mídia na Argentina. (Cada governo tende a favorecer os veículos com os quais se sente mais confortável. Quando o governo conservador de Mauricio Macri chegou ao poder em 2016, colocou a maior parte de sua publicidade em outros veículos). 

Portanto, quando o Página / 12 reformulou o seu site em 2016, também fez um aceno em seu slogan, “O outro olhar”, ao seu status como um jornal de “oposição”. O novo slogan integrou o seu esforço para construir uma identificação mais forte com os leitores em busca de um lugar para uma cobertura crítica ao governo Macri. 

O Página / 12 encontrou os seus primeiros membros entre esses leitores. Este estudo de caso mostra como eles alavancaram um público leitor intelectualmente engajado para cultivar uma comunidade online baseada na sua seção de comentários. Hoje, eles recebem uma média de 3 mil comentários por semana, e, embora não divulguem os números exatos da adesão ao seu programa de membros, o diretor digital Mariano Blejman confirma que o programa de membros contribui com mais receita do que qualquer contrato individual de publicidade digital. Em outras palavras, “o programa de membros é o principal anunciante digital” do Página / 12. 

Por que isso é importante

Quando o Página / 12 lançou o seu novo site, optou por não implementar um paywall, porque os líderes do veículo não queriam limitar o acesso às matérias. Isso significava que eles tinham que descobrir outras maneiras de tornar valioso o seu programa de membros. Decidiram então concentrar-se na construção de uma comunidade que valesse a pena pagar para aderir. 

Os meios de comunicação estão cada vez mais focados em construir comunidades, mas muitas vezes o fazem fora de suas plataformas, em lugares como grupos do Facebook e no Slack. Isso é arriscado, porque essas empresas podem mudar as regras a qualquer momento. 

Construir uma comunidade no próprio site, como o Página / 12 fez, dá aos meios de comunicação uma imagem mais completa dos membros fiéis de sua audiência, porque permite ver as conexões entre comportamento de leitura e de comentário, bem como outros fatores, como assinaturas de newsletters. Fazer isso também reduz o risco de que uma mudança de algoritmo possa acabar com seu relacionamento.  

Mas um programa de membros só pode prosperar quando um meio de comunicação conhece seus membros bem o suficiente para oferecer benefícios desejáveis ​​aos membros, e uma comunidade só pode se desenvolver quando você investe nela. O Página / 12 fez as duas coisas.

O que eles fizeram

Antes de lançar o seu programa de membros, o Página / 12 entrevistou membros do público, perguntando questões como com que frequência eles visitaram o site, se leram a edição impressa e se estariam dispostos a apoiar financeiramente o Página / 12 para ajudar a garantir sua independência econômica e editorial. Setenta e três por cento dos membros entrevistados ​​disseram “Sim” à pergunta sobre apoio financeiro.

Questionados sobre por qual tipo de benefício que pagariam, os membros escolheram opções como descontos em eventos culturais e educacionais, conteúdo audiovisual exclusivo e possibilidade de contribuir com matérias. O Página / 12 também aprendeu que eles normalmente tinham um alto nível educacional, e que muitos deles eram acadêmicos ou tinham empregos “intelectuais” semelhantes.  

Então, decidiram oferecer dois benefícios: uma variedade de ofertas culturais, como palestras com repórteres e aulas online, e acesso a um espaço online onde esse público intelectual pudesse interagir uns com os outros e contribuir com seus conhecimentos.

A oportunidade de ter a sua voz ouvida está no centro da proposta de valor do seu programa de membros. Quando o Página / 12 lançou o programa de membros com a ferramenta do Coral para moderar e gerenciar comentários, eles habilitaram os comentários apenas para membros. Além disso, apelaram aos leitores fiéis a se juntarem para “defender” a sua voz no ecossistema da mídia argentina, de acordo com Celeste González, editora de engajamento. 

Para tanto, o Página / 12 ofereceu aos membros — que eles chamam de “parceiros” — a oportunidade de exercer sua voz em sua plataforma. Os comentários são chamados de “contribuições” e as curtidas são chamadas de “recomendações”. 

Mas oferecer a possibilidade de comentar e criar uma comunidade são duas coisas diferentes. Quando o Página / 12 lançou seu programa de adesão, não havia uma pessoa focada em nutrir a comunidade. Isso mudou quando González ingressou como editora de engajamento um ano depois. 

Seu primeiro desafio foi trazer alguma ordem a um programa desorganizado, de modo que eles pudessem realmente cumprir a sua promessa aos membros. Naquela época, não havia distribuição regular de newsletters, conversas mensais com repórteres ou alguém que respondesse sistematicamente aos comentários. 

González rapidamente deu alguns passos importantes: 

  • Nos primeiros meses, ela leu e respondeu a todos os comentários. Se fossem comentários sobre erros de digitação, erros gramaticais ou perguntas, os leitores obteriam uma resposta do Página / 12 agradecendo.
  • Para iniciar a conversa e identificar oportunidades de engajamento, ela sinalizou publicações com um grande número de comentários para repórteres pertinentes, incentivando-os a responder. 
  • Ela escreveu e publicou mensalmente perfis dos membros, convidando-os a compartilhar como se tornaram leitores do Página / 12 e sua motivação para se tornarem membros. Seu objetivo era mostrar quem eram as pessoas por trás dos pseudônimos dos comentários. Para isso, escolheu os que mais participaram, com o objetivo de oferecer perfis variados e manter o equilíbrio de gênero.  
  • Ela incentivou os membros a compartilharem as suas experiências em diferentes assuntos, o que alimenta a cobertura jornalística dessas questões.

Os resultados

González realizou todas as etapas acima porque ela não queria apenas comentários dos mesmos poucos membros repetidamente. Ela queria que mais pessoas comentassem, e queria que elas se sentissem parte de uma comunidade real. À medida que o número de membros cresceu, também aumentou o número de comentários.

Hoje, os membros se reconhecem nos comentários. Segundo González, eles já sabem o que as pessoas podem comentar e até antecipam se um integrante vai gostar de determinada matéria ou artigo. Aqui está um exemplo de uma membro (“Canaria”) pedindo a outra membro cuja opinião ela respeita (“Liliana47”) para compartilhar suas ideias. 

Em dezembro passado, os membros pediram nos comentários por um encontro presencial, então o Página / 12 organizou uma festa de fim de ano. Ver aqueles que se conheceram na seção de comentários celebrando pessoalmente foi um grande sucesso para González.  

Este esforço para construir uma comunidade online foi especialmente recompensado quando Buenos Aires entrou em lockdown no início da pandemia de coronavírus — uma das quarentenas mais rígidas do mundo na época. Enquanto alguns meios de comunicação lutavam para se adaptar à construção de comunidades online, o Página / 12 já fazia isso há alguns anos.

Daniel Paz, o ilustrador do jornal, passou a publicar diariamente ilustrações da vida em confinamento. Os membros começaram a comentar, então ele começou a responder. Tornou-se uma rotina diária — ele publica uma nova página de diário todos os dias e, em seguida, inicia uma conversa com os membros sobre a experiência na quarentena.

The COVID-19 pandemic also allowed the organization to expand the ways it works with members. After reading a reader comment asking about how coronavirus spreads, a member offered to analyze for Página/12 how the virus spread in each country

A pandemia de Covid-19 também permitiu ao veículo expandir as formas de trabalhar com os membros. Depois de ler o comentário de um leitor perguntando sobre como o coronavírus se dissemina, um membro se ofereceu para analisar para o Página / 12 como o vírus se espalha em cada país

Alguns dos colegas desse membro juntaram-se a ele nesse trabalho. Eles já se conheciam da comunidade científica de Bariloche, na Patagônia argentina, e estavam acostumados com publicações científicas. Usando o WhatsApp e o Google Docs, elaboraram uma análise comparativa sobre como os diferentes países responderam à crise.  O resultado foi um artigo colaborativo que acabou sendo publicado no Página / 12 e recebeu mais de 130.000 visitas únicas. Como disse González, “o intercâmbio mútuo é o eixo do programa de membros e o que o torna diferente.”

González também incentiva a equipe a participar dessas conversas; no entanto, apesar de algumas sessões de treinamento interno sobre engajamento, geralmente, ela ainda precisa iniciar a participação do repórter nos comentários.

O que eles aprenderam

Os indicadores certos são cruciais. Quando o Página / 12 começou a monitorar dados métricas ligadas aos comentários, o fez em números absolutos: o número total de contribuições e recomendações, independentemente de quem estava comentando ou reagindo às postagens de outros membros. Mas González não queria apenas aumentar o número de comentários, ela queria aumentar o número de pessoas contribuindo com comentários. Então mudou a forma como prestava atenção às atividades de comentários. Agora ela está monitorando o número de comentaristas ativos em um determinado mês, bem como o número total de comentários, para que possa avaliar se os comentários e o número de participantes que os deixaram estão crescendo. Por exemplo, em abril de 2020, eles tinham 1.256 comentaristas ativos, que deixaram 25.487 comentários.

Courtesy of Página/12

Uma pessoa não pode fazer tudo. Existe um limite para o que um editor de engajamento pode fazer para criar uma comunidade online participativa. O resto da redação também precisa se envolver. Para incentivá-la, González observa quais artigos estão gerando conversas e aborda diretamente os repórteres, pedindo-lhes que participem da conversa. Frequentemente, eles não sabem como começar, então ela sugere algumas respostas possíveis. Ela aprendeu que os comentários mais fáceis para os repórteres se envolverem são aqueles que fazem perguntas específicas sobre o texto.

Conclusões principais e alertas

Uma equipe dedicada é essencial para que a construção de uma comunidade online funcione. Mesmo quando uma redação usa uma ferramenta como o Coral, projetada para gerenciamento comunitário, ela precisa saber como usá-la bem. Um editor de engajamento que identifica oportunidades para conversas é uma peça indispensável. Essa pessoa pode não apenas alimentar a discussão, mas também compartilhar ideias com a redação para incentivar a sua participação. 

A tecnologia certa também é essencial. Para o Página / 12, que passou de uma versão online da edição impressa para a construção de uma comunidade na plataforma em quatro anos, esse tem sido um grande desafio. Embora tenha a seção de comentários coberta, outros aspectos do programa de membros digital não foram resolvidos, como ter uma página de destino para o programa de membros. “Ainda estamos resolvendo uma herança tecnológica. Isso significa que o Página / 12 ainda não está fornecendo a experiência de usuário que gostaríamos”, disse González.

É difícil mudar velhos hábitos. Membros e repórteres precisam de ajuda para entender essa nova maneira de interagir. González teve que investir tempo não apenas para incentivar os membros a se engajarem, mas também para ensinar aos repórteres a maneira mais eficaz de voltar a se engajar, e como incorporar isso ao seu fluxo de trabalho.

Para construir uma comunidade, você precisa saber quem são os seus membros. Os membros do Página / 12 compartilham uma afinidade ideológica, e muitos deles possuem formação intelectual ou acadêmica. Eles são motivados por oportunidades de compartilhar esse conhecimento. Assim, o Página / 12 desenvolveu um benefício para os membros — a possibilidade de fazer comentários — que atende ao desejo de se envolverem intelectualmente uns com os outros. Quanto mais você entender sobre o que seus membros valorizam, mais fácil será desenvolver um programa de membros que terá repercussão. 

Outros recursos

Para fins de transparência: O Membership Puzzle Project forneceu apoio ao Página / 12 através do Membership in News Fund. Aldana Vales, a autora deste estudo de caso, ocasionalmente é freelancer para o Página / 12.

Panorama da redação

Quem são eles
Uma organização jornalística nacional e trilíngue focada em notícias locais e na política
Localização
Selangor, Malásia
Fundação
1999
Lançamento do programa de membros
2019
Visitantes únicos mensais
5 milhões
Número de membros
20.792*
Percentual de receita representado pelo programa de membros
46%

O Malaysiakini lançou um programa de assinaturas em 2002, sendo uma das primeiras redações da Ásia a adotar um modelo em que a audiência contribui para a receita. Em 2019, o Malaysiakini introduziu um programa de membros como suplemento para suas assinaturas porque o crescimento havia estagnado e os leitores almejavam uma relação mais profunda com a organização. O programa de membros é um adendo opcional — os assinantes podem se juntar caso desejem (sem custos adicionais) ou continuarem apenas com suas assinaturas.

O Malaysiakini escolheu este modelo misto, ao invés de exclusivamente um programa de adesão, devido ao clima político na Malásia. Ataques do governo à imprensa são frequentes, e o veículo sabia que alguns leitores teriam medo de serem chamados de “membros” do site. 

“Há uma sabedoria envolvida na decisão de não formalizar [o nosso programa de adesão]. Nós podemos usar o termo ‘membros’ informalmente por enquanto. Mas tudo que é por escrito diz assinantes, até os nossos recibos, porque usar a palavra ‘membros’ pode pô-los na mira do governo”, disse a chefe de adesões, Lynn D’Cruz. 

*Esse é o número de assinantes. O Malaysiakini não pôde fornecer o número de assinantes que optaram por aderir ao programa de membros. 

Por que isso é importante

O governo da Malásia vigia de perto jornalistas, com ameaças de revogação das concessões para que possam publicar e processos contra indivíduos e organizações — incluindo, em diversas ocasiões, o Malaysiakini. A mais recente delas veio em junho de 2020, devido a comentários feitos por usuários no site. Isso deixou os leitores temerosos de serem publicamente associados à organização.

Devido ao medo entre os leitores de que possam se tornar alvos por serem “membros” do Malaysiakini, a organização sentiu que era importante permitir que leitores pudessem continuar a se identificar publicamente como assinantes. Os leitores recebem convites para se tornarem membros apenas depois de serem assinantes.

O modelo misto permite ao Malaysiakini oferecer opções tanto para quem quiser ler e apoiar o site sem ser associado a ele quanto para aqueles que desejam se engajar mais (mas ainda desejam manter um perfil mais reservado enquanto o fazem).

O MPP é com frequência perguntado sobre como um programa de membros pode ter lugar em ambientes onde há repressão à mídia. A abordagem do Malaysiakini mostra uma maneira que as organizações de notícia podem apoiar sorrateiramente o engajamento típico de modelos de adesão, mas sem pôr seus apoiadores em risco.

Além disso, modelos mistos de receita estão em alta, despertando uma série de perguntas sobre como, exatamente, eles podem coexistir na mesma organização. Este é um exemplo.

O que eles fizeram

O Malaysiakini tem um serviço de assinatura desde 2002, mas lançou seu programa de membros em novembro de 2019.

Eles começaram o processo de elaboração do programa de membros com uma pesquisa de opinião enviada aos assinantes, perguntando-lhes o motivo de manterem suas assinaturas (a maior parte respondeu que é devido à sua lealdade ao Malaysiakini) e o que esperavam ver no futuro. Eles receberam alguns milhares de respostas. A pesquisa mostrou que os dois pedidos mais populares foram uma newsletter e acesso antecipado às reportagens (algo que ainda está sendo desenvolvido).

Em resposta, o Malaysiakini introduziu dois produtos ao programa de membros:

A newsletter Nifty Notes: Todos os assinantes são automaticamente adicionados à lista de e-mail para esta newsletter semanal, mas podem optar por parar de recebê-la a qualquer momento. A newsletter está disponível também para não assinantes, como um produto de construção de fidelidade para encorajá-los a se tornar usuários pagantes mais à frente. 
A comunidade Kini: Uma comunidade on-line disponível para seguidores que optaram por participar do programa de membros. Integrantes da comunidade Kini podem favoritar reportagens, seguir e dar curtidas nos comentários de outros membros, além de palpitar sobre quais pautas desejam que o Malaysiakini cubra em seguida. A ferramenta foi desenvolvida em resposta aos leitores que expressaram interesse em ter uma relação mais profunda com o site.

An image showing a mobile interface of Kini Community's "Bookmark Stories" feature which includes a icon people can click on to save a story to their profiles.
Um dos recursos da Comunidade Kini é a capacidade dos membros de favoritar histórias. Devido ao caso em andamento, este exemplo inclui um texto fictício.

Por mais que a indústria do jornalismo esteja se afastando dos comentários anônimos, o Malaysiakini optou por mantê-los assim para proteger seus usuários de represálias do governo. 

O site tem tido que lidar com os comentários de maneira cautelosa diante da pressão governamental, particularmente depois que foi processado por cinco postagens anônimas deixadas por usuários no site

A política de comentários do Malaysiakini diz o seguinte:

Todos os comentários são linkados ao seu perfil de assinante no Malaysiakini, e nós reservamos o direito de revelá-lo para as autoridades diante de solicitações por motivos válidos. No passado, o Malaysiakini se recusou a divulgar as identidades dos nossos colaboradores, resultando em buscas policiais e computadores confiscados. Vamos manter esta política. No entanto, pode haver exceções.

Ao mesmo tempo, o Malaysiakini incentiva os integrantes da comunidade Kini a usarem seus nomes reais, dando ponto para quem opta por fazê-lo. Os pontos são como moedas na comunidade, que podem ser comprados ou acumulados deixando comentários e usando nomes reais. Os pontos permitem curtir as postagens de outras pessoas.

Os resultados

Por mais que o Malaysiakini tenha se recusado a fornecer números, eles disseram que quase um terço dos seus assinantes foi conquistado após novembro de 2019, quando lançaram a opção adicional do programa de membros. Falaram ainda que mais da metade do total de assinantes optou pelo programa de membros. 

No entanto, desde que o governo malaio abriu os processos contra a publicação, em junho de 2020, os comentários no site e o engajamento na comunidade Kini reduziram — parcialmente por uma queda de entusiasmo e parcialmente porque o Malaysiakini restringiu o número de reportagens nas quais permite comentários. Eles não permitem mais comentários em matérias sobre o julgamento em curso, disse o diretor executivo Premesh Chandran. 

Os assinantes expressaram preocupação com a possibilidade do Malaysiakini entregar suas informações pessoais para a polícia malaia, apesar do fato do serviço ter deixado claro em sua política de comentários que não fará isso a menos que haja “uma clara violação da lei” — mesmo que isso signifique arriscar uma nova batida policial na sua redação. O Malaysiakini precisou ser muito claro com os seus usuários a respeito de como podem ou não protegê-los.

“Na verdade, nós alertamos [nossos assinantes] que eles são responsáveis por seus próprios comentários, e que nós iremos entregar suas informações pessoais para a polícia caso seja solicitado. Isso também garante que os nossos leitores sejam mais responsáveis por seus comentários no Malaysiakini”, escreveu Chandran para o MPP.

O que eles aprenderam

Ter um modelo misto permitiu aos malaios apoiar o Malaysiakini da forma que se sentirem mais seguros. Foi crucial oferecer aos leitores a opção de permanecer em uma relação transacional de assinatura ou de optar também pelo programa de adesão. Isso permitiu ao Malaysiakini continuar a receber contribuições financeiras de ambos leitores.

“Eles acreditam que o Malaysiakini traz informações verídicas e é isso que eles apoiam. Querem acesso à verdade”, disse D’Cruz. 

A construção de uma comunidade, no entanto, é incrivelmente difícil quando participar dela desperta uma sensação de risco. O Malaysiakini viu um declínio acentuado no engajamento desde que foi processado. Eles estão experimentando incentivar a comunidade Kini a usar seus nomes verdadeiros, mas, diante da sombra do julgamento, não está claro se isso vai funcionar. 

Conclusões principais e alertas

Se você está atuando em um ambiente com liberdade  de expressão limitada, garanta que os seus apoiadores se sintam seguros. Em um país como a Malásia, onde a perseguição do governo à mídia é forte, o número de pessoas que quer divulgar seu apoio a uma organização da imprensa mirada pelo governo é provavelmente bem menor que aqueles que desejam informações de qualidade, mas preferem manter um perfil reservado. Enquanto você escolhe e desenvolve seu modelo de receita oriunda da audiência, é importante manter em mente não apenas suas necessidades, mas o que fará seus membros em potencial se sentirem seguros ao oferecerem apoio.

Ter um modelo misto requer comunicação. Ter dois modelos de receita e de engajamento coabitando na mesma organização requer uma comunicação excepcionalmente clara com a audiência. Qualquer confusão pode gerar problemas para adquirir tanto assinantes quanto membros. Você deve se esforçar para facilitar que eles compreendam a diferença e para ajudá-los a entender qual dos dois sistemas se adapta melhor às suas necessidades. 

Outros recursos